quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Esperança

Quando Theodora surtar, gritará de si para fora. Avistará do telhado terra estrangeira que, por causa de um grito, se tornará sua.

Quando Theodora enlouquecer, desenvolverá esqueleto verde e asinhas, porque pousar é preciso.

Viver não é preciso.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Noite e dia
trabalha a formiga. Com inveja
da cigarra vadia.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Theodora hearts Antoine Doinel



Theodora apaixonou-se perdidamente por Antoine Doinel. Sim! Ele mesmo, o alter-ego de François Truffaut que aparece em cinco de seus filmes: "Les quatre cent coups", "Antoine et Colette", "Baiser volés", "Domicile conjugal" e "L'amour en fuite".

É verdade que a queda que Theodora tem por Antoine se estende a Jean-Pierre Léaud, que mantém o charme até hoje. O último filme que viu com este ator foi "O Pornógrafo" - o qual recomenda àqueles que tenham bom gosto* -, que conta a história de um ex-diretor de filmes pornôs que, depois de anos, por dificuldades financeiras, é obrigado a voltar à ativa.

O filme é de uma melancolia silenciosa, pontuada por bons diálogos entre o Pornógrafo e seu filho - o qual saiu de casa quando descobriu o ofício do pai - e, como não poderia deixar de ser, cenas de sexo.


* Theodora não acredita na máxima "gosto não se discute", provavelmente inventada para justificar o mal gosto de alguém.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Theodora recomenda: Eu sei que vou te amar


Filme escrito e dirigido por Arnaldo Jabor, de 1986. Texto fabuloso que às vezes faz doer no peito.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Encaixotamento

Theodora guarda em uma caixinha de madeira forrada de veludo preto suas maldades. Não todas, porque não há espaço suficiente, mas tão-só as mais bonitas. As que reputa mais requintadas.
Vez ou outra, semeia-as em algodões úmidos e coloca-as ao sol, para vê-las germinar, observar a trasnformação dos cotilédones em folhas miúdas e, logo em seguida, a sua morte.
São tristes os raminhos mortos das maldades bonitas. São também bastante eficientes quando utilizados como adubo orgânico.
Theodora não vê graça nas bactérias, porém vê na tristeza um certo charme. Charme fecundo que mantém em uma outra caixinha, aberta somente em ocasiões especiais.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

"Pro dia nascer feliz"

Este fim de semana, Theodora assistiu ao documentário "Pro dia nascer feliz", de João Jardim.
Descobriu-se, ainda, muito adolescente, apesar de não mais contar com a aconchegante selvageria da escola, a confortável idéia de fazer vestibular ou com o fato de cursar uma faculdade.
Lembrou-se que aos 16 comia menos, dormia menos, namorava menos.
Lembrou-se também das fantásticas pessoas que a cercaram à época. Sentiu saudades, muitas saudades.
Saiu feliz do cinema. E foi trabalhar contente na segunda-feira.

domingo, 13 de maio de 2007

Solitário fumava seu cigarro. Soberano, com aquele ar de realeza que só possuem os fumantes bonitos. Muito embora eu tentasse, a qualquer custo, chamar-lhe a atenção, não me olhava, como uma forma de penalização por minha vaidade hedionda.
Fumavam-me, assim, seus solitários cigarros.
Um após o outro.

domingo, 22 de abril de 2007

A girl's best friend

Sete saias de filó.
De uma barata epífana,
cravejada de diamantes.

Patinhas enfeitadas com cem pontos luminosos.
Um quilate!

Sete quilates de mentiras
rosas e gostosinhas.
Com aroma de baunilha.

Triste e pobre baratinha.

Ploc

Bolhas.
Coisinhas delicadas.
Ante à aparição da esfera translúcida, o impulso é apanhar uma agulha, limpá-la com um chumaço de algodão embebido em álcool e picá-la.
- Ai!
- Não faça isso! Espere que sare sozinha. Com o tempo.
Esperei.
Porém ela em meu pé permanece.
Seca.
Mas aqui permanece.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Piquenique

Piquenique combina com bolo de cenoura coberto com chocolate. Com toalha xadrez, sol, sorrisos e cesta de palha. Jamais participei de um piquenique assim. Recordo-me de um em que machuquei os joelhos e de outro em que estava o dia muito cinza e o vento algo gélido. Aquele bolo de cenoura chegou a existir, mas era ele fino, embatumado e desforme. Findou sendo esquecido. Nunca mais comi bolo de cenoura achocolatado. Nunca mais comi bolo algum.

domingo, 18 de março de 2007

Festa

Tão sólidos são os defeitos de Theodora que as vezes se personificam. Quando isto acontece, leva-os todos para jantar. Num lindo banquete. Não hesita em devorar um aqui outro ali sempre que tem vontade - sem vomitar em seguida -, muito embora saiba que um defeito digerido é mais tóxico do que se imagina.

sábado, 10 de março de 2007

Theodorices

Theodora pensava gostar de joão.
De joão pedro, joão paulo, joão marcelo.
Mas descobriu que estômago não tem para joões compostos
e acha uma pena que sejam os simples tão difíceis de encontrar.

terça-feira, 6 de março de 2007

Conflitos II

Após ler uma série de textos muito bem escritos por uma bela jovem, comecei a lamentar-me por não ter talento. Um pingo sequer.

Pensei em da poseia me afastar de vez, em nunca mais com ela se envolver; vê-la só de longe.

No momento em que isto considerava - e com isto me entristecia -, tocou o telefone...

Trim... trim...

- Alô.
- Oi. Qual é a lei que determinou o reajuste do vencimento-base de R$ 400,00 para R$ 800,00?
- É a 2.481.
- Ok. Obrigada.
- De nada.

E assim terminou, definitivamente, meu namoro com a poesia.

Conflitos

Encontro-me insensível para poesia.
Cansei-se de tanta beleza enfeiada,
mascarada por uma pretensa naturalidade
por uma amargura tão evidentemente fabricada.
Gosto mesmo é de ler jornal.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Mensonges

Apresento-lhes algumas mentiras que permeam a minha vida:

a) Não ligo para o que pensam de mim.

Uma pessoa que acorda 1h15min antes da hora de sair para o trabalho, para poder maquiar-se e escolher o traje ideal não pode afirmar que não se importa para o que os outros pensam de si.

São muitos os reais gastos com revistas de moda: Vogue, Nylon, Elle, L'Officiel. Non, c'est ne pas facile manter-se atualizada, compor looks e reiventar-se dia a dia, criando novas identidades. Identidades às quais jamais deixo de aplicar o blush, de que depende minha aparente saúde.

Sem rímel, delineador ou curvex, não mais consigo me enxergar.

b) Não me importo que os outros pensem que sou superficial.

Mentira polpuda, pois cá estou eu, escrevendo o presente texto , com o intuito de escavar esta minha superficialidade. Uma tentativa - talvez embaraçosa, talvez vã - de parecer algo...interessante.

c) É uma benção ter cabelos lisos.

Apesar de gostar dos meus cabelos muito lisos, a verdade é que sinto um pouco de inveja das mulheres de cabelos encaracolados - ou ondulados - dotadas de uma beleza, por assim dizer, natural. Sem cosméticos, apenas com um brilho labial.

Invejo nessas mulheres a leveza, a singeleza de sua composição visual - sempre com itens hippongos, batas, longas saias estampadas - e a sensualidade que lhes é inerente.

Não fui agraciada com este chame de Gabriela Cravo e Canela. Tampouco em mim o cultivo.

Primo pelo estilo audrey-hepburnesque, que envolve vestidos pretos, pérolas e - sim - cabelos lisos. Dentre outros requintes.

Penso que este estilo "liso" agrada, em verdade, a ninguém mais que os fashionistas. Os demais preferem aquela mulher selvagem, de madeixas volumosas.

Por isso, nem sempre é uma benção ter cabelos lisos. No entanto, tão cedo não hei de abandonar meus finalizadores, cremes para pentear sem enxagüe, o secador e a prancha.

A inveja me impele a deixar mais e mais lisas minhas madeixas. Como um sinal de revolta.